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A despedida de uma estrela do balé

Postado por SECEC-RJ em 06/out/2021 -

A bailarina Cecília Kerche se despede do Municipal do Rio com a realização de uma live e a publicação de e-book.

Como a senhora recebe essa homenagem com a publicação do e-book “Uma bailarina made in Brazil”?

Foi uma surpresa. Até porque nós não temos no país esse hábito de se preservar a memória. Tanto que o Theatro Municipal realizou já diversos espetáculos memoráveis e recebeu grandes estrelas, mas não houve filmagem desses eventos. Até das minhas atuações há pouco registro e só tenho conhecimento de gravações que não foram oficiais. Pelo menos, pelo e-book será possível, principalmente os mais jovens, verem o que as outras gerações assistiram presencialmente, através das fotos e dos textos. Haverá nesta quarta-feira uma live que participarei. [Pode ser acompanhada a partir de 06/10, às 19h, no canal do YouTube do Theatro Municipal pelo link ou pelo Facebook no link]. Foram 37 anos de uma carreira limpa, de amor à arte e de devoção a um teatro. O Theatro Municipal me fez mudar para o Rio, mudou o curso da minha, pois tudo o que eu queria era ser a primeira bailarina dessa casa.

E qual era o significado do Municipal para uma jovem bailarina vinda do Interior?

Era o meu maior sonho desde a adolescência pertencer ao Theatro Municipal do Rio. É o mesmo que uma criança que começa a estudar balé em Moscou e sonha em pertencer ao Bolshoi. Foi o resultado de muito empenho próprio de anos, do apoio da minha família e depois do meu marido [professor Pedro Kraszczuk], que conheci aos 13 anos. Fiz o concurso em 1981 e no ano seguinte comecei no Corpo de Baile. Me determinei para isso e para depois vir a ser a primeira bailarina dessa que era a única companhia clássica do país.

Como se deu o início de sua carreira internacional?

Ocorreu através da Natalia Makorova que veio ao Brasil para montar um balé e ficou apaixonada quando me viu dançar e me convidou para participar de um documentário sobre a vida dela. Segundo ela, eu era a pura bailarina clássica. Foi como estender o tapete vermelho para o Oscar. Eu admirava demais o trabalho dela e sua forma de interpretar e de dançar muito próprios. Depois ocorreram diversos convites internacionais, a começar pelo “La Bayadère”, no Teatro Colón de Buenos Aires, no início dos anos 1990.

Tendo pisado nos palcos mais importantes do mundo em quatro continentes, não surgiu uma tentação de ingressar numa companhia internacional?

Pertenci ao Theatro Municipal numa época em que era efervescente. Tinham óperas e balés extraordinários, riquíssimos em suas produções. Não sentia falta de sair do meu país. Sentia falta do contato com outros bailarinos e de buscar novas experiências do exterior, mas não para ficar. Dancei ao lado dos bailarinos mais renomados e icônicos do balé clássico. Fui muito feliz na minha carreira.

De todo o repertório do balé clássico, há algum que lamente por não ter dançado?

Uma bailarina é sempre inquieta e tem vontade de fazer coisas diferentes, mas o que realmente me fez falta foi não ter dançado “A Dama das Camélias”. Cheguei a conversar com o Neumeier [coreógrafo John Neumeier] sobre essa possibilidade, mas ele já não saía da Europa e não foi para frente. Por esse motivo tenho essa frustração e não estou completa como artista.

– No entanto, a senhora dançou quase todo o repertório clássico. O balé “Giselle” ainda é seu favorito?

Sim. Foi o primeiro que dancei completo. Foi na minha formatura e ao lado do meu marido. Depois o dancei na Rússia, na Inglaterra e fiz vários papéis diferentes desse balé. Até hoje a música dele não me sai da cabeça.

A senhora está se aposentando do Theatro Municipal e qual é a sensação de estar encerrando esse vínculo?

Estou me aposentando como funcionária pública do Estado do Rio, mas já me despedi dos palcos em 2016 e depois só dancei papéis pequenos. Desde os 30 anos eu dou aulas, palestras, sempre fiz parte de comissões de júri e dei consultoria. Meus planos para o futuro são trabalhar para passar às outras gerações o que aprendi. Enquanto restar esse encanto pela dança, vou me dedicar a ela.

E o que aconselharia aos jovens bailarinos que estão começando?

Eu aconselho a ter persistência, tenacidade, disciplina. Tudo depende de ser vocacionado para a dança e ter dedicação. Não é para pensar em status, em agradar a família. É para seguir um objetivo profissional e de carreira.

Responsável pela estruturação do MIS, Ricardo Cravo Albin grava depoimento para a Casa

Postado por SECEC-RJ em 22/set/2021 -

Ricardo Cravo Albin foi o primeiro presidente do MIS e idealizador da série “Depoimentos Para a Posteridade”, para a qual acaba de contribuir. Crédito: Gui Maia/SECECRJ

 Qual foi sua emoção ao ter contribuído com a série “Depoimentos para a Posteridade” do MIS, que ajudou a criar em 1966?

 Voltar ao Museu da Imagem e do Som para gravar aquilo que foi o esboço da definição do prestígio, da celebridade e da cristalização do Museu em 1966, quando eu criei o Depoimento, foi certamente um momento de forte emoção para mim. Um dos segredos do sucesso da série foi a inserção da palavra-chave “posteridade”. Isso gerou uma concorrência de interesses e desejos de toda a estrutura que tem alguma importância no Brasil para ser registrada nesse panteão. Essa foi a grande causa da vivificação e prestígio do Museu. Claro que me levou a uma forte emoção o convite do meu estimado presidente Cesar Miranda Ribeiro para fazer o depoimento, celebrando o aniversário do MIS.

– Apesar da emoção, o senhor ficou bastante à vontade?

Claro, até porque as perguntas foram feitas por amigos queridos, como eu imaginei e defini desde o começo. Pessoas fariam depoimentos muito mais testemunhais, do que científicos ou sociológicos. Ficam totalmente à vontade. Essa é a base que eu criei e que foi replicada no Brasil inteiro. Recebi vários convites para fundar museus dezenas de vezes, o principal dos quais o Museu da Imagem e do Som de São Paulo, fundado e elaborado por mim ao lado de Rudá de Andrade, infelizmente já morto. Até hoje um museu muito bem sucedido.

Qual é a importância do Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira para os apaixonados pela música nacional?

Ele foi considerado pela Unesco como o maior banco de dados em música popular do mundo. Em termos de dicionário musical, o maior é da Alemanha, dedicado às óperas dos grandes autores, onde o governo alemão gasta muito dinheiro. No nosso, há apenas bolsas de estudo custeadas em parceria com a Faperj, desde 2001, quando criamos o dicionário e o instituto para abrigá-lo. Ele também é uma enciclopédia. Ele tem verbetes para os gêneros e instrumentos musicais. O samba com suas múltiplas classificações e a bossa nossa que não é senão o samba. A música sertaneja, regional, o início da indústria fonográfica… Está tudo lá.

Como será a dinâmica do seu programa na rádio Roquette Pinto?

Comecei minha carreira de radialista e tenho muito orgulho disso. Me diversifiquei muito na vida. Já tive várias profissões paralelas, como de escritor, musicólogo, conferencista, historiador, etc., mas o que mais me atraiu e mais me consolou na vida foi o fato de ter o microfone à frente para espalhar ideias e poder contribuir com a difusão de informações corretas. O programa se chama “Carioquice” e vai ao ar todo sábado às 9h.  Procuro levar música e informação de qualidade aos ouvintes.

– E com relação aos seus novos projetos?

Estou lançando nesta quarta-feira (22) à noite (às 19h), pelo canal da Livraria da Travessa no YouTube, o livro “Pandemia e Pandemônio”, com textos de apresentação de Nélida Piñon e Margareth Dalcolmo, uma infectologista que defendeu a necessidade do cidadão brasileiro se proteger dessa malignidade, uma peste que já matou 600 mil pessoas no país, o que é uma coisa gravíssima. É um roteiro do que ocorreu no trágico ano de 2020.

– A pandemia lhe abalou?

Como a todo mundo. Fiquei confinado aqui na Urca há um ano e meio. No começo eu fui um dos primeiros a ver essa possibilidade de que isso geraria grandes compulsões psicológicas e psiquiátricas às vítimas que estavam recolhidas. Estou recolhido há quase dois anos e privado de convívio, de abraço, de contato com as pessoas, cinema, teatro e isso aflige a existência de uma pessoa que passou justamente a vida inteira fazendo exatamente essas coisas. Não estou deprimido, na cama, nada disso e até estou trabalhando muito. Estou ansioso até para que essa pandemia acabe para poder entrar de férias, porque tenho trabalhado mais do que nunca.

Projeto beneficiou mais de cem profissionais

Postado por SECEC-RJ em 08/set/2021 -

Rita Fernandes, presidente da liga Sebastiana, afirma que edital deu um “respiro” para profissionais do carnaval. Crédito: Gui Maia/SECECRJ

–  Qual é a importância do auxílio proporcionado pelo edital de carnaval da SECECRJ?

–  Esse e outros editais públicos são a única salvaguarda que temos para essa cadeia produtiva, que está parada desde o ano passado. É importante esclarecer para quem não acompanha o carnaval que os profissionais que atuam nos blocos ou outros grupos carnavalescos têm uma atuação intensa durante o ano todo e não só naqueles quatro dias oficiais de folia. São eventos corporativos, casamentos, ensaios, oficinas, apresentações diversas, escolha de samba, entre outros, que geram renda para eles e que foram suspensos. O carnaval em si, que começa cada vez mais cedo e está durando de janeiro a março, é para muitos a principal fonte de remuneração, mas não a única. São músicos, cantores, aderecistas, costureiras e muitos outros profissionais que precisam dessa ajuda vital.

–   Como essa verba está ajudando esses profissionais?

–  No caso da Sebastiana, o que procuramos fazer é esticar ao máximo a abrangência do nosso projeto de uma forma que pudéssemos realmente beneficiar da forma mais ampla possível essa cadeia produtiva. Por isso, em primeiro lugar optamos por realizar uma mesa de debates reunindo palestrantes ligados ao carnaval. Depois, na live de apresentação musical escolhemos fazer um evento que reunisse nove blocos e o Clube do Samba num evento só, para podermos produzir algo bem rigoroso em termos de qualidade e investindo numa produção caprichada. Se nos preocupássemos só com a apresentação musical do bloco, íamos deixar de fora parte dessa cadeia produtiva. Só no cenário, são uns dez profissionais. Como optamos por colocar fantasias em todos que vão se apresentar, estamos ajudando as costureiras da ONG Divinas Axilas, ligada ao bloco Suvaco do Cristo, que também tinham sido prejudicadas com a pandemia.

–  Há todo um pessoal de apoio para a produção ficar impecável, mas e com relação ao pessoal envolvido diretamente na parte musical?

–  Todos foram escolhidos criteriosamente. Chamamos o Paulão Sete Cordas para ser diretor musical, por ser envolvido com o carnaval e o samba. Chamamos os cantores profissionais Marina Iris e Moyseis Marques, que sempre concorrem em escolhas de samba. A apresentação foi da Aline Prado, que é apresentadora de TV e foi a porta-bandeira do Imprensa Que Eu Gamo durante 15 anos. Ela está dentro e vibra com o assunto. Além de uma boa turma de ritmistas. Chamamos também os nossos mestres de bateria Penha, Felipe e Felipão, personagens indispensáveis do carnaval. Em resumo, conseguimos contemplar muitas áreas de uma cadeia produtiva parada e foram mais de 100 pessoas envolvidas. É uma galera que está trabalhando e, por menor que seja o valor, é um dinheiro que vai ajudar, que dá um respiro nessa hora. É uma forma que a Sebastiana encontrou de beneficiar bastante gente e realizar algo bonito.

Rita Fernandes destaca participação de costureiras na produção da live. Crédito: Gui Maia/SECECRJ

–  E a participação de representantes de blocos de fora?

–  Chamamos o Clube do Samba porque alguns integrantes de blocos da Sebastiana enfrentavam problemas, até por conta da pandemia, e não puderam participar. O Clube é ligado ao Barbas e muito ligado à nossa história. Mas houve uma mesa de debate com representes de outros blocos. Chamamos o “Mulheres Rodadas”, o “Tambores de Olokun”, entre outros, por fazerem um trabalho muito importante. Essa foi uma conversa sobre a saúde, que ficou afetada. Muita gente está deprimida, com a paralisação do carnaval, das mortes, com os problemas familiares, solidão… O carnaval sempre foi um momento de catarse para a sociedade. É uma distensão de tudo que passamos o ano todo. Num momento de pandemia, de dor e morte, precisaríamos ainda mais disso e não tivemos. Por isso, o tema dessa segunda mesa.

–  E por todos esses motivos, como as pessoas vão se comportar no próximo carnaval?

–  Ninguém sabe dizer. É uma questão difícil porque envolve o comportamento do outro. Hoje, em setembro, a gente observa esse desejo desse encontro, desse toque, mas as pessoas ainda estão receosas. Tem muita água para rolar. Festas de fim de ano, Réveillon, verão e o comportamento pandêmico que temos que avaliar. Se a pandemia estiver sob controle, vai ser uma loucura, principalmente os mais jovens. Será o carnaval dos muito jovens, dos 13 aos 25 anos. Estão sem escola, sem festas, sem futebol, nada. Será o primeiro momento de extravasar. É uma questão que as autoridades, a mídia e os agentes públicos precisam se preocupar e até fazer campanhas para orientar. Já os mais velhos vão ficar um pouco mais cautelosos. Mas pode haver também o retorno de bailes em ambientes fechados com mais controle.

Presidente da Sebastiana diz que é cedo para prever comportamento de foliões no próximo carnaval, mas exagero de muito jovens preocupa. Crédito: Gui Maia/SECECRJ

–   Qual foi o maior desafio de transpor para uma apresentação online um evento essencialmente de rua?

–  Nossa filosofia é a democracia da rua, de ocupar esse espaço público. O carnaval quando é bloco acontece organicamente com aquilo que a cidade tem a oferecer na hora, como o Escravos da Mauá que absorve o pessoal local, com ala de pernas de pau, outra ala da Providência, e por aí vai. Num palco não é a mesma coisa, mas procuramos sintetizar da melhor forma possível. A Sebastiana escolheu fazer um passeio musical, que vem desde 1985 e chega aos anos 2000, através das músicas dos seus blocos. É o retrato dos 36 anos da Liga, numa ordem cronológica. Virou um acervo. Há o registro de pelo menos um samba representativo por bloco. Termina a live com um grande baile de carnaval. O objetivo é deixar as pessoas em casa bem animadas e sempre poderá ser visto.

Dedicação à orquestra com 90 anos de tradição

Postado por SECEC-RJ em 25/ago/2021 -

–  A Orquestra Sinfônica do Municipal está completando 90 anos. Qual é o significado dessa longevidade?

–   A Orquestra foi criada oficialmente no dia 2 de maio de 1931 e sua primeira apresentação ocorreu em 5 de setembro do mesmo ano. Estamos comemorando os 90 anos dessas duas datas e preparando uma programação especial, com repertório dedicado a Mozart [Acompanhe a divulgação da programação através das redes sociais do Theatro]. Acredito que é um feito e uma vitória para a orquestra ter sobrevivido tanto tempo, tendo em vista a pouca valorização da Cultura no país.

–   Qual é a importância para a Casa ter um corpo de músicos próprio como acontece com o Municipal nessas nove décadas?

–   A importância para a Casa ter um corpo de músicos próprio é muito além de termos um emprego público com estabilidade. Na verdade quando o Estado tem uma casa onde óperas, balés e concertos sinfônicos são idealizados tendo seu apoio significa que em teoria a valorização da Cultura é reconhecida. O país precisa desse tipo de valorização pois sem a arte um povo não evolui, não cresce, não se desenvolve. Assim como qualquer profissão, o Theatro Municipal abrange profissionais de alto gabarito em todos os seus setores, inclusive técnicos e administrativos. E ter a casa funcionando como um todo é uma vitória. O que lutamos por décadas é por não deixarmos a peteca cair. Precisamos sempre de renovação dos quadros e buscamos concursos assim como em qualquer setor. Com um quadro estável a programação pode fluir com muito mais sucesso e unidade sonora propriamente dita.

–  O que é necessário para se chegar ao nível da Orquestra?

–   Muito estudo, desde cedo. Em muitas profissões as pessoas precisam apenas de alguns anos de faculdade para exercê-las, mas os músicos têm que se dedicar praticamente uma vida inteira para obter um reconhecimento. No meu caso, comecei a estudar violino aos 6 anos em casa com o meu pai, o violinista Giancarlo Pareschi, que era italiano e que fez parte da Orquestra, chegando a ser spalla. Ele era muito rígido e eu tinha que estudar diariamente no fim da tarde, inclusive nos fins de semana e feriados. Também paguei aulas particulares até os 33 anos e fiz Curso de Aperfeiçoamento em Violino Solista na Itália, com o professor Domenico Nordio. É um investimento incalculável, que nem sempre traz o retorno financeiro que merecemos, mas amamos o que fazemos.

–   Como está sendo a experiência das apresentações online durante a pandemia?

–   Ainda estranho o fato de tocar sem o público, mas é também uma situação que tem a ver com a modernidade e que foi forçada pela pandemia. Essa programação está proporcionando a expansão do público do Municipal. Acredito que estamos prestando um papel muito relevante para a sociedade nesse momento de isolamento porque a música é um entretenimento benéfico para as pessoas. Porém, ainda enfrentamos o desafio de realizar essas execuções cumprindo os protocolos, o que não é fácil. Por outro lado, acho que essa situação está forçando o Theatro a criar um acervo de apresentações gravadas, um investimento que nunca tinha sido feito. Ao longo desses 90 anos, ocorreram poucas apresentações gravadas, com recursos tecnológicos insuficientes. Espero que as gravações continuem, mesmo com a volta do público.

–   Nesses 90 anos da Orquestra que nomes destacaria como regentes?

–   Um momento muito marcante para mim e para praticamente todos os músicos foi o fato da Orquestra ter sido regida pelo Rostropovich [russo Mstislav Rostropovitch (1927-2007)]. Ele foi um violoncelista admirável e a presença dele no palco regendo teve um impacto muito grande.

–  Como é sua relação com a música popular? O erudito convive bem com ela?

–  O convívio é mais harmonioso do que parece. Estamos sempre participando de gravações de música popular. Muita gente não sabe mas já toquei em gravações do Zeca Pagodinho, Caetano Veloso, Roberto Carlos, Joana, Djavan, do famoso disco de Natal da Simone, Sandy e Júnior, Skank, Jota Quest, Titãs… Uma infinidade de artistas populares. Até na Itália meus parentes reconhecem meu nome nos CDs da Laura Pausini. Participei também de um show do MC Sapão na Quinta da Boa Vista. Só falta a Anitta (risos). Eu adoro. Também gravamos para trilhas de filmes, comerciais e novelas. Em “A Força do Querer”, quando a Bibi (personagem de Juliana Paes) sobe o morro se sentindo poderosa, sobe um som que eu gravei. As pessoas em sua maioria não se dão conta, mas sem a música do violino a cena não transmitiria a mesma sensação.

– O que falta para a música erudita se tornar mais popular e como a Orquestra poderia ajudar nisso?

–  Há um mito de que o povo tem aversão à música clássica, mas isso não é verdade. Tanto que quando oferecemos ingressos a um real, formam-se filas e pessoas que não teriam condições de pagar o ingresso normal do Municipal aproveitam bastante. Mas acredito que poderíamos ter um programa mais amplo de formação de plateia e educacional, indo às escolas públicas e na periferia de uma forma geral. É algo que exigiria investimento e talvez se as empresas se interessassem em patrocinar conseguiríamos superar os entraves financeiros. Traria muito retorno para todos e teria um efeito positivo para a sociedade.

Escola de Artes Visuais é referência na formação de artistas e profissionais da Cultura

Postado por SECEC-RJ em 11/ago/2021 -

Yole Mendonça diz que visitação agendada trouxe mais comodidade para os visitantes e demais frequentadores do palacete do Parque Lage. Crédito: Leonardo Ferraz/SECECRJ

–  Como está se dando a retomada das atividades presenciais pela EAV?

–  Está ocorrendo paulatinamente, mas na realidade nunca chegamos a ficar totalmente parados. Adotamos de imediato as aulas online no ano passado e houve a reabertura da visitação ao parque e ao palacete em julho de 2020. Ocorreu até um fenômeno curioso que foi um aumento muito grande da procura no verão passado e as filas para a entrada na sede eram preocupantes. Para se ter uma ideia, em janeiro registramos a entrada de 75 mil pessoas no parque. Por isso, a partir de fevereiro iniciamos o agendamento pela internet. Esse método deu muito certo e estamos pensando até em mantê-lo permanentemente porque deu mais conforto ao visitante e trouxe uma convivência melhor com as nossas atividades administrativas e educacionais. Por enquanto, estamos respeitando o limite de 40% da capacidade, mas podemos ampliá-lo conforme avançar a vacinação.

–   E com relação às aulas presenciais?

–   Temos alguns cursos em formato de oficina que não se adaptam ao formato online, pois precisam de ferramentas e materiais de grande porte que os alunos não possuem em casa. Por isso, desde abril estamos retomando os cursos presenciais, como o de escultura, na oficina 3D, de xilogravura, litogravura, nas oficinas de gravura. Agora no segundo semestre, estamos com uma grade de 50 cursos, sendo sete deles presenciais. Seguimos critérios rigorosos de segurança, com lugares marcados, higienização dos materiais e número reduzido de alunos. No entanto, vamos continuar com as aulas virtuais, que permitem a participação de alunos do Brasil inteiro e até do exterior. É bom para a Escola ampliar seu público. [Veja a relação de cursos no link.]

–   Em que medida os cursos da EAV auxiliam na formação profissional das pessoas?

–  Nossos cursos não têm a característica formal ou profissionalizante, pois são cursos livres. Mas alguns se relacionam ao campo de atuação profissional da Cultura, além disso enriquecem demais o currículo dos alunos que desejam atuar profissionalmente. Um exemplo é o Luz e Cena, de iluminação e cenografia, que é procurado por pessoas que desejam ou possuem atuação profissional no mercado. Os alunos aprendem com os melhores profissionais da área. São cursos semestrais, que podem ser complementados por outros também mais longos, sem contar os casos em que há todo um acompanhamento do trabalho artístico dos alunos por parte dos professores, sem prazo fixo para acabar.

–  As exposições também vão se intensificar a partir de agora?

–  Já tivemos uma exposição com público, que foi a “Hábito/Habitante”, realizada entre maio e junho, que trabalhou com interatividade e performances. Elas eram filmadas para transmissão pelas redes sociais e pelo site. Eram como lives, mas ficaram arquivadas. Temos uma programação já montada, mas ainda estão fechando as datas. Acreditamos que em outubro, com a pandemia mais controlada, poderemos realizar de novo a jornada voltada para as crianças e jovens.

–  Ao longo do tempo, a EAV acumulou uma série de trabalhos artísticos, que acabaram formando um acervo. Como está gestão dessas coleções?

–  A Escola recebeu de fato muitas doações de professores, ex-professores e alunos, que estão expostas nas paredes do palacete e preservadas na reserva técnica. Tudo bem catalogado e guardado. Também recebemos múltiplos, que comercializamos em feiras, na loja ou online, como trabalhos em serigrafias e gravuras, por exemplo. Isso gera uma renda importante para nós. Tudo catalogado e pode ser comprado pelo site, como a coleção Amigo EAV. Esse acervo também enriquece nossas exposições ou pode virar empréstimos para mostras em outros lugares, a pedido dos curadores.

–  A EAV revelou muitos nomes famosos das artes plásticas brasileiras. Ela continua sendo um celeiro?

–  Tivemos pessoas muito boas no passado, que ganharam renome. Um exemplo emblemático foi o da chamada Geração 80. Eles despontaram através de uma exposição realizada aqui em 1984 intitulada “Como Vai Você, Geração 80?”. Nela, estavam artistas como Beatriz Milhazes, Jorge Guinle, Leonilson, Leda Catunda, Luiz Zerbini, entre outros. São nomes que depois passaram a ser reconhecidos até internacionalmente. Por coincidência, eu estava na direção do CCBB do Rio 20 anos depois, quando houve uma exposição para relembrar esse período e chamou-se “Onde Está Você, Geração 80?”. Mas a Escola continua revelando nomes nas artes plásticas e novos ex-alunos têm espaço em galerias famosas. É o caso do Yuri Cruz, Mulambö, Laís Amaral, Ana Almeida, só para citar alguns nomes.

–  A que se deve esse resultado?

–  Isso se deve à liberdade dos cursos, que são um encontro muito frutífero. O método livre da Escola, o contato com professores que já estudaram a história da arte e toda essa efervescência e inconformidade são muito potentes e continuam existindo. É o que leva as pessoas a procurarem a escola e o convívio com outros artistas.

Projeto de restauro do palacete pode sair do papel com a participação de patrocinadores. Crédito: Leonardo Ferraz/SECECRJ

–  Há a intenção de restaurar o palacete e o entorno?

–  Temos um projeto de restauro que está pronto e alinhavado. Inclui o palacete, que completou 100 anos este ano. Temos a intenção de obter a verba para isso através dos editais. Como aqui é um espaço vivo, visitado, conhecido e reconhecido pela população que o frequenta, acreditamos muito no interesse dos patrocinadores. Ainda por cima há a data do centenário. E tem a possibilidade de ser feito em módulos, o que permite aportes ao longo do tempo. O restauro das cavalariças e das áreas verdes poderia ser feito separadamente. É um espaço maravilhoso de convivência que precisa ser cada vez mais valorizado.

Guardião do tesouro musical do MIS

Postado por SECEC-RJ em 28/jul/2021 -

Pedro Dias, responsável pelo Setor Sonoro do MIS, exibe um exemplar de picture disc, que era comum até a década de 1960. Crédito: Leonardo Ferraz/SECECRJ

–  Como é composto o acervo do Setor Sonoro do MIS?

–  O Setor Sonoro, como o próprio nome diz, é responsável pelos suportes que têm conteúdos sonoros. Ele está dividido em dois grupos básicos: fitas e discos. Temos as fitas de rolo, as de cartucho, que duraram pouco tempo no Brasil, e as cassete, que tiveram uso comercial muito forte. Em termos de discos, temos os de cera, os de acetato, os de vinil e, inclusive, os CDs, que já são digitais mas não deixam de ter esse formato também. Nos de acetato eram gravados programas de rádio, episódios caseiros até cartas. Nesse suporte, está grande parte da coleção da Rádio Nacional, que preserva parte da memória do rádio brasileiro, e é importantíssima par o MIS. Programas de variedades, esportivos, radionovelas, jornalísticos estão preservados nesse suporte. A música brasileira deve muito à radiodifusão para a divulgação em território nacional por parte da emissora. Em suma, são cerca de 60 mil documentos sonoros já catalogados no banco de dados. Número que deve crescer em cerca de 50% se levarmos em conta os itens sendo trabalhados, passando por um processamento técnico prévio até serem catalogados.

–  Quais são os cuidados necessários para se preservar esse acervo?

–  A preservação desses documentos consiste em diversas etapas, desde a documentação de entrada na instituição até o acondicionamento final. Os discos em vinil e cera precisam eventualmente serem limpos e para isso usamos uma mistura à base de água, que por incrível que pareça é o material mais adequado por ser menos invasivo possível. Na higienização do discos, em geral, utiliza-se água – evidentemente não qualquer água. Com o uso de pincéis específicos e produtos para conservação, os discos são lavados. Quando o suporte está muito deteriorado fazemos apenas a higienização mecânica. Temos a preocupação de preservar ao máximo os suportes para as próximas gerações, mesmo que alguns tenham ruídos. Apesar de já termos digitalizado 96% dos itens presentes no banco de dados e até ser possível editar esses ruídos, é preciso garantir a preservação desse material. Até porque não se sabe ao certo a capacidade de sobrevivência das novas tecnologias digitais.

–  Como é o trabalho de elaboração da programação da Rádio MIS RJ?

–  Quando a atual gestão colocou a rádio nas nossas linhas de ação, para o Setor Sonoro foi um ganho muito relevante, pelo espaço de difusão dessa memória, que faz parte do estado e do país. Ela tem um potencial muito grande de democratizar o acesso ao patrimônio cultural brasileiro. Quando fui convidado pelo presidente Cesar Miranda Ribeiro para fazer parte da curadoria da rádio, tive a honra de ganhar a responsabilidade de participar não só da seleção musical, mas também do direcionamento do que é veiculado. Trabalhamos com a premissa da preservação do patrimônio e da valorização dos grandes nomes da música. Por isso, também procuramos valorizar o acervo do Depoimentos para a Posteridades, sobretudo no programa Frequência MIS.

Discos de acetato de 78 rotações são riquezas do acervo do MIS. Crédito: Leonardo Ferraz/SECECRJ

–  Como está sendo o feedback dos ouvintes?

–  O retorno tem sido muito gratificante e enriquecedor ao mesmo tempo. Disponibilizamos um número de WhatsApp (021-96967-3570) justamente para recebermos sugestões dos ouvintes e dicas de playlists, de programação, de temas específicos e é um canal importante para isso. Houve alguns casos de pessoas que ouvindo os programas resolveram doar relíquias que possuíam em casa. Houve o caso de uma ouvinte, fã da cantora Linda Batista, que escreveu para nós sobre a admiração que tem por ela e pediu um programa sobre ela, o que estamos estudando. Um outro ouvinte resolveu doar um arquivo pessoal sobre Angela Maria, com discos raros e reportagens. Há sempre retorno. Isso nos aproxima da nossa comunidade e ajuda a criar cada vez mais pontes com ela.

–  Como está o tratamento da coleção Paulo Tapajós, que foi doada recentemente ao MIS?

–  Temos uma estimativa de que ela contenha 16 mil itens. Desse total, até agora já foram levantados 4 mil discos de cera aproximadamente. Ele era maestro da Rádio Nacional, produtor de programas e regente da emissora durante um tempo. Foi muito envolvido com a música sua coleção contém muitas pérolas, como os discos de cera da fase mecânica, quando ainda eram gravados e tocados à manivela. Também tinha os picture discs de cera em 78 rotações, que contém imagens gravadas dos dois lados, e que foram produzidos até 1962. Só desse tipo de suporte vamos dobrar o número de itens no museu e como um todo a coleção enriquece em muito o nosso acervo. Foi um dos grandes maestros da história brasileira e regeu e conviveu com diversos artistas, a nata da música popular brasileira, como Jabob do Bandolim, Linda Batista, Elizeth Cardoso.

Poupando trabalho para os pesquisadores

Postado por SECEC-RJ em 30/jun/2021 -

Mariana Pontim, do Setor de Documentação do MIS-RJ, na sede do museu, na Lapa. Crédito: Gui Maia/SECECRJ

Como o Setor de Documentação do MIS se organiza e está integrado com os demais?

– O Setor tem uma relação transversal com os demais setores do museu, permitindo um acesso mais amigável e organizado para os pesquisadores e profissionais da instituição. Somos responsáveis pela disponibilização do conteúdo no Banco de Dados. Conteúdo este, proveniente dos setores, onde os documentos são organizados e trabalhados, sob os cuidados e orientações da Gerência de Acervo. O Banco de Dados abrange 28 das 35 coleções do MIS. São quase 300 mil itens que estão disponíveis para consulta nos terminais de computador e no Centro de Pesquisa Ricardo Cravo Albin. A partir deles, é possível não só pesquisar por tema, autoria, título etc.,  em função dos seus diversos campos, como cruzar informações e produzir relatórios. Estamos envolvidos também com o trabalho de “limpeza”, digamos assim, desse conteúdo, trabalhando para o aprimoramento das listas, nomes e do vocabulário controlado. Tudo para facilitar a vida e a consulta do nosso público.

O que falta para as outras sete coleções serem integradas no Banco de Dados?

– Algumas estão ainda em tratamento, outras foram adquiridas recentemente. A do Paulo Tapajós, por exemplo, foi iniciado no dia 23 o seu processo de arrolamento. É bem volumosa, com diversos suportes. A do José Wilker, composta majoritariamente por livros, é a mais recente coleção, está em comodato com o MIS, e já está disponível para consulta no SISGAM (Sistema de Gerenciamento de Acervos Museológico), que é a plataforma de gestão e registro de acervos dos Museus do Estado do Rio de Janeiro, vinculados à REDE WEB DE MUSEUS. Depois integrará o Banco de Dados do MIS, que está em processo de reformulação. É uma dinâmica normal dos museus.

Como é o critério de classificação das peças?

– Como todo museu, o MIS tem seu Plano Museológico que vai nortear suas ações, inclusive para as doações. Esse plano vai nortear a averiguação do que está sendo oferecido e do que o MIS vai buscar. Então, não é de forma aleatória que avaliamos. Com a doação, começa o tratamento do bem cultural musealizado. Cada item vai passar por triagem, seleção, documentação, arrolamento e catalogação. Enfim, um trabalho muito técnico para que as peças sejam organizadas e disponibilizadas para o público. Pode ocorrer de recebermos peças que fogem do plano e nesses casos indicamos um destino mais apropriado. Mas não são decisões pontuais, porque é fundamental manter a integridade da coleção para se preservar o pensamento e a formação cultural e intelectual daquele que a construiu.

Anteriormente o setor se chamava Banco de Dados e mudou para Setor de Documentação. Foi uma mera formalidade ou alterou a finalidade dele?

– A atual gestão tomou uma sábia decisão. De fato, há um lado formal, pois Banco de Dados dá uma ideia de TI, o que não é o caso, mas ao mesmo tempo o setor ganhou uma dinâmica nova com maior ênfase no trabalho de pesquisa. Estamos subsidiando mais os projetos da Casa. A Comunicação está trabalhando muito com conteúdos para as redes sociais, que procuramos fornecer. Também com a Gerência de Produção temos uma interação maior, além da Gerência de Acervo, que sempre foi constante. Toda informação produzida pelo MIS  é embasada. Estamos produzindo muito para a Radio MIS RJ, uma criação da atual gestão do jornalista Cesar Miranda Ribeiro, e com as lives. Fazemos parcerias com outras instituições, produção de documentário e de exposição, por exemplo. Há um foco maior, de forma geral, na realização das pesquisas com o objetivo de divulgar melhor o acervo. Houve uma valorização da produção interna de conhecimento pelo próprio MIS. Assim, cumprimos melhor nossa missão pedagógica de formação cultural da sociedade.

Qual é o retorno que estão tendo desse trabalho?

– O retorno é maravilhoso e surpreendente. Tivemos, por exemplo, a ideia de fazer uma postagem sobre a cantora Linda Batista, que dá nome a uma de nossas coleções, com mais de 2 mil itens. Acabou gerando a atenção dos fã-clubes das cantoras da época de ouro do rádio. Então o fã clube da Marlene compartilhou e marcou o da Linda Batista. Nisso, já surgiu a ideia de uma realizar uma live reunindo os fãs clubes das cantoras do rádio. Tem tudo a ver com o acervo do MIS, que salvaguarda a coleção da Rádio Nacional. Uma das coisas mais fascinantes foi a criação da Rádio MIS, que caiu como uma luva porque temos um acervo que mostra a história da radiodifusão no Brasil. Temos mais de oito mil programas de rádio, incluindo o roteiro, a sonora, as fotografias e até as cartas dos ouvintes. O Edgar de Alencar, um crítico musical, disse no dia do lançamento dos dois primeiros discos com o selo MIS – um de Noel Rosa e outro de Carmen Miranda – no final de 1965 o seguinte: “O MIS não pode ser um sarcófago de múmias, mas um museu que pretende ser dinâmico na proclamação dos valores de ontem e de hoje”. A rádio realiza esse preceito. Através dela, tivemos contato com um senhor, o professor Rosaldo Queiroz que, após ouvir os episódios sobre o Lamartine Babo,  inaugurador do programa “Frequência MIS”, entrou em contato com o Museu e doou o LP “O Carnaval de Lamartine”, que pertencera a seu pai, e possui dedicatória de Lamartine para o radialista Heber de Bôscoli. Os dois junto à atriz Yara Salles  protagonizaram o “Trem da Alegria”, um dos programas mais duradouros da história do rádio. A doação está registrada em depoimento do professor ao Pedro Dias, responsável pelo setor sonoro da instituição. Aliás, Pedro e Aline Soares (responsável pelos setores Educativo e Institucional) apresentam o “Frequência MIS”, onde eu apareço no último episódio revelando os dados e destaques do homenageado no acervo do MIS. Está sendo muito enriquecedor participar subsidiando esse projeto. Estamos preparando mais novidades.

Spalla da Orquestra do Municipal fala dos desafios da função

Postado por SECEC-RJ em 16/jun/2021 -

Ricardo Amado ingressou por concurso no Theatro Municipal em 2002. Crédito: Tony Lopes

Como o senhor definiria a função do spalla numa orquestra?

– Apesar de ser mais conhecido pela atuação na orquestra sinfônica, o spalla está presente também nas orquestras filarmônicas e até de câmara. Sua função é bastante nobre, pois é um violinista que precisa ter o melhor preparo possível para executar os solos. Quer queira ou não, ele fica mais exposto por isso. Mas, na minha trajetória, aprendi que uma das reponsabilidades de um spalla é de atuar como um interlocutor entre o maestro e a orquestra. Spalla em italiano quer dizer ombro e não é à toa. Nossa função é mesmo de apoio, de intermediário, recebendo a confiança do maestro. Ele serve como um ponto de equilíbrio e harmonia numa relação que nem sempre é tranquila. Há situações que acabam extrapolando e o spalla, junto a outras lideranças da orquestra, ajudam a equilibrar todo o processo.

Como foi sua passagem de violinista comum para spalla?

– Foi uma passagem bastante natural porque acredito que tenho uma vocação para a liderança por me cobrar muito. Procuro compreender o limite do grupo e encontrar o que cada um pode dar de melhor. Eu sempre me dedico a encontrar soluções harmoniosas no trabalho também. Foi assim que me tornei Spalla da Orquestra da UFF em 1994 e depois continuei. Apesar de só ter ingressado efetivamente como spalla no Municipal em 2002, já a partir em 1998 participei de algumas apresentações nessa função esporadicamente. Ingressei por concurso na casa, mas logo recebi o convite para assumir a função.

Quais são suas referências no mundo da música?

– Uma das minhas maiores realizações foi ter tocado sob a Regência do Rostropovitch [Mstislav Rostropovitch, violoncelista e maestro russo, nascido em 1927 e morto em 2007] no Municipal em 2002. Ele foi um mestre e uma referência para mim e para uma legião de músicos atuam com a música clássica. No Brasil, ele regeu a orquestra para a apresentação do balé “Romeu e Julieta”. Foi a realização de um sonho e apesar do peso que tinha, me deixou bem à vontade e deixou uma carta de recomendação com elogios à minha participação. Ele tinha uma energia incrível regendo. Outra referência é o Leon Spierer [violinista alemão]. Ele foi spalla da Filarmônica de Berlim durante 30 anos, parte dos quais ao lado do maestro Karajan [Herbert von Karajan, maestro austríaco nascido em 1908 e morto em 1989], outra referência para mim. Esses nomes são importantes de serem lembrados porque foram pessoas que ajudaram a popularizar e divulgar a música clássica. Foram grandes artistas e grandes gestores.

Pandemia levou músicos a gravarem apresentações para a internet. Crédito: Lipe Portinho

Neste momento de pandemia, a programação do Municipal está sendo transmitida online. Como foi sua experiência de gravar nessas condições?

– Estamos seguindo o padrão de segurança da Fiocruz. Há controle de temperatura na entrada, álcool em gel, máscara e ao chegarmos, desinfectamos os cases dos instrumentos. Obviamente há um desconforto, mas é necessário. Como os nossos concertos são somente cordas, o distanciamento social já é suficiente. Havendo sopros, teremos que usar as proteções de acrílico. Ensaiamos duas vezes antes e a gravação transcorreu muito bem. Estamos felizes, por outro lado, porque as gravações estão deixando registrada a qualidade artística dos servidores do Municipal. Enquanto outras casas gravam CDs, DVDs e estão até nas plataformas de streaming, aqui as gravações são raras. Creio que antes só havia uma gravação da orquestra feita na década de 1970. Torço para que não acabem, mesmo depois da pandemia. [Assista ao concerto no link].

Escola de Cultura RJ criará rede de formação em todo o Estado

Postado por SECEC-RJ em 02/jun/2021 -

Claudia Viana aposta em parcerias com entes públicos e privados para levar formação aos municípios fluminenses. Crédito: Gui Maia/SECECRJ

Quais são as prioridades da Escola Estadual da Cultura do Rio de Janeiro nessa fase inicial?

– Nessa fase inicial, estamos estruturando a Escola. No entanto, já realizamos ações importantes, como uma parceria com o Sebrae-RJ para ampliar a participação de blocos e escolas de samba nos editais de carnaval da SECEC. Também conseguimos implementar ações de formação em alguns municípios. É o momento de fortalecer as articulações dentro da própria Secretaria e junto aos demais órgãos públicos e potenciais parceiros privados.

De que forma a Escola pode ajudar na democratização do acesso à cultura e aos financiamentos públicos do setor?

– Levando conhecimento, orientações e formações para os fazedores de cultura de todos os 92 municípios. Nossa meta é conseguir criar polos em todos eles. Essa rede é importante para que consigamos articular as ações em todo o território e para obtermos o efeito multiplicador que almejamos. A ideia é abranger todas as linguagens e formar cardápio de formações para o setor cultural de todas as regiões, com maior prioridade para o Norte e Noroeste, que têm maior dificuldade de acesso à capital e maiores obstáculos socioeconômicos. Nosso foco é democratizar ao máximo o acesso aos programas e projetos incentivados no âmbito da Secretaria e difundir conhecimento.

Que tipos de parcerias estão sendo buscadas para fortalecer a Escola e ampliar sua atuação?

– Todas as parcerias são bem-vindas para fortalecer nossa rede de atuação em prol da Cultura em todo os Estado do Rio. Vamos buscar parceiros tanto públicos e quanto privados para conduzir as formações. Temos que poupar recursos e atingir os objetivos da forma mais eficiente possível.

Como deve ser o diálogo com os demais componentes do Sistema Estadual de Cultura?

– Nossa proposta é de permanente diálogo e de promoção de ações conjuntas. Através do projeto Arte Para Todos, por exemplo, criamos espaços de formação em sete municípios. Eles já servirão para desenvolvermos o trabalho de articulação e multiplicação das formações. Não precisa ser uma estrutura tão complexa. Basta ter acesso à internet e uma pessoa responsável, que faria justamente essa ponte com a Secretaria, estabelecendo uma articulação local. Queremos espalhar esses polos por todo o estado e, mesmo que não tenha o espaço cedido pelos municípios, podemos buscar parceiros com estrutura para montar essa rede.

Como sua experiência na área educação pode contribuir para a formação e qualificação de profissionais da cultura e gestores públicos?

– Acredito que minha experiência vai ajudar muito nesse processo de planejamento e gestão das ações da Escola. Esse é um projeto que veio para ficar e precisamos garantir a continuidade. Tenho um grande prazer em fazer interlocuções e é o que a Escola mais precisa no momento. Estamos levantando as demandas de cada município para elaborar um cardápio de formação que atenda a todos.

Como será a atuação durante a pandemia e quais são os próximos passos da Escola?

– No momento, estamos adotando modelo híbrido, com atividades online e presenciais, seguindo todas as regras sanitárias de prevenção à Covid-19. Estamos trabalhando dessa forma por conta da pandemia, mas devemos continuar nesse formato mesmo depois da normalização pela questão da eficiência. Teremos sim polos em todos os 92 municípios, formando uma teia cultural para viabilizar o intercâmbio em todo o território fluminense.

A História do Rio contada através das imagens

Postado por SECEC-RJ em 19/Maio/2021 -

Daiane Lopes fala dos cuidados com a preservação do acervo iconográfico do MIS. Crédito: Gui Maia/SECECRJ

Como pode ser descrito o acervo do Setor Iconográfico do MIS?

– O Setor Iconográfico é muito rico e vasto. É formado por itens imagéticos, majoritariamente fotográficos, tanto em papel, quanto vidro ou negativo. Há também uma pequena parcela de cartazes de filmes, shows ou peças de teatro e desenhos. Temos aproximadamente 100 mil itens distribuídos pelas coleções. O que é mais interessante destacar é que esse acervo de imagens retrata a sociedade do início do século XX até hoje, em termos culturais, históricos, políticos e econômicos. O seu primeiro grande eixo temático é ligado à história da música e o segundo à história da Cidade do Rio de Janeiro, embora se tenha muitos outros.

Como essas coleções foram sendo reunidas no MIS?

– A maioria das coleções chega ao MIS por meio de doações, embora algumas tenham sido compradas para a inauguração do Museu em 1965, como, por exemplo, as coleções dos fotógrafos Guilherme Santos e Augusto Malta. É também do ano de inauguração do MIS a chegada da coleção Almirante. Henrique Foréis Domingues, o Almirante, foi um grande radialista, pesquisador, compositor, fez parte do Bando de Tangarás, e esteve à frente de importantes e inovadores programas da Rádio Nacional durante anos, tendo contato com diversos artistas, como Pixinguinha, Carmen Miranda, Noel Rosa, Braguinha, entre outros. Ele fez parte da constituição da Música Popular Brasileira. Assim como a coleção Almirante, é preciso destacar também as coleções de Augusto Malta e Guilherme Santos, fotógrafos que deixaram uma contribuição muito importante. Tanto um quanto outro retrataram a história da cidade, mas enquanto o primeiro tinha um cargo na Prefeitura o outro foi mais amador, no sentido de não tirar seu sustento do ofício de fotógrafo. Guilherme Santos, embora não tenha sido um fotógrafo oficial como Malta, ele possui igual importância, principalmente pelo registro da cidade durante décadas. Além de trabalhar com a técnica estereoscópica, que permitia a reprodução de imagens no formato tridimensional, o que equivaleria ao 3D de hoje.  Vários foram os momentos da vida da cidade e de seus moradores eternizados por esses fotógrafos, como as transformações urbanísticas e arquitetônicas, as práticas, os costumes e a sociabilidade das ruas. Há lindos registros do carnaval antigo, dos desfiles de corso, do lazer na praia, dos vestuários, da boemia carioca… enfim, o dia a dia da cidade era registrado pelas lentes deles. Já no cenário musical temos, por exemplo, o Diler, um grande fotógrafo dos artistas, que fez muitas e ótimas fotos nos anos de 1940 e 1950. Além também de termos outros importantes nomes de fotógrafos no Setor Iconográfico, esses já mais contemporâneos, como Thereza Eugênia, Wilton Montenegro, Walter Firmo, entre outros.

Quais são os desafios de se preservar todo esse acervo?

– Há muitos desafios, mas quando se ama o que se faz o cuidado acaba sendo redobrado, com atenção e consciência do que se está fazendo e a forma de como se faz para organizar, tratar, guardar, como guardar, tudo isso conta. Mesmo havendo limitações financeiras e apesar dessas dificuldades de recursos, conseguimos avançar. Grande parte dessas coleções já está catalogada, digitalizada e acondicionada, o que facilita a conservação dos itens originais. Disponibilizamos a partir desse trabalho de catalogação e digitalização terminais de consulta ao acervo com base de dados e imagens para os pesquisadores ou público em geral que queira acessar os itens, o que garante a maior preservação dos originais, pois assim se evita o constante manuseio dos mesmos e se previne quaisquer danos aos itens originais. Além disso, sempre colocamos vários exemplares nas mídias sociais da instituição para o conhecimento e divulgação do acervo junto ao público, o que facilita o acesso à informação do que temos e também democratiza esse importante acervo. Sem ter que manusear nenhuma peça, o pesquisador pode recorrer ao banco de dados disponível nos terminais de computador, que já apresentam uma mostra da imagem para consulta. Tudo isso ajuda a manutenção, conservação e preservação dos originais.

Há necessidade de restauração para as peças?

– Se faz o monitoramento frequente do acervo, que já está acondicionado em material apropriado para cada tipo de suporte. Por exemplo, fotografias em papel a gente utiliza o poliéster com cartão de alta gramatura que não seja ácido, para prolongar ao máximo a vida útil dos itens. O acondicionamento é muito importante porque ele também auxilia nessa condição de estender a vida útil dos itens e estamos aqui para preservar essa memória o mais possível. Todo item tem um invólucro próprio, alguns em caixas em formato cruz e entrefolhados, outros em caixas que permitem a aeração, dependendo sempre da especificidade e necessidade de cada suporte e suas características. Mesmo faltando um controle ideal de temperatura e umidade, temos fotos com mais de cem anos, em muito bom estado de conservação.

Qual é o perfil dos pesquisadores e frequentadores?

– Nós recebemos um público muito vasto e de formação também bastante variada. Recebemos estudantes, professores, pesquisadores de pós-graduação, e pesquisadores internacionais, de países como Portugal, Inglaterra, França, Alemanha que vêm ao MIS para pesquisar. São também arquitetos interessados nas fachadas do Rio Antigo e no urbanismo, jornalistas, músicos, historiadores, produtores culturais, entre outras áreas. Como o MIS possui um amplo acervo de imagens e som ligado a temas como música, história do rádio, história da cidade, etc., há um imenso número de publicações nas quais o MIS aparece sempre nas referências dessas obras.

Que exigências são feitas para a pesquisa e uso das imagens?

– Por conta da pandemia, é preciso fazer o agendamento para o acesso à Sala de Pesquisa, na sede da Lapa, onde são seguidos todos os protocolos de segurança contra a Covid-19. Dependendo do uso que será feito da imagem, há uma tabela de preço a ser pago. Há também a necessidade de preenchimento de uma documentação padrão para aquisição das cópias do acervo. O pesquisador interessado em obter essas cópias entra em contato pelo e-mail institucional de atendimento à pesquisa e faz a solicitação, a partir desse momento ele recebe o passo a passo do pagamento e do preenchimento do termo de responsabilidade de uso. Orientamos a obter a autorização dos detentores dos direitos, pois o MIS não detém o direito autoral, mas sim a guarda dos itens. Mas, de forma geral, as pessoas detentoras dos direitos autorais liberam o uso porque também entendem que é a preservação da memória e da história que está em questão.