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A História do Rio contada através das imagens

Daiane Lopes, coordenadora do Setor Iconográfico do Museu da Imagem e do Som, cuida de acervo que reflete fatos históricos, comportamentos e personalidades do passado carioca


Daiane Lopes fala dos cuidados com a preservação do acervo iconográfico do MIS. Crédito: Gui Maia/SECECRJ

Como pode ser descrito o acervo do Setor Iconográfico do MIS?

– O Setor Iconográfico é muito rico e vasto. É formado por itens imagéticos, majoritariamente fotográficos, tanto em papel, quanto vidro ou negativo. Há também uma pequena parcela de cartazes de filmes, shows ou peças de teatro e desenhos. Temos aproximadamente 100 mil itens distribuídos pelas coleções. O que é mais interessante destacar é que esse acervo de imagens retrata a sociedade do início do século XX até hoje, em termos culturais, históricos, políticos e econômicos. O seu primeiro grande eixo temático é ligado à história da música e o segundo à história da Cidade do Rio de Janeiro, embora se tenha muitos outros.

Como essas coleções foram sendo reunidas no MIS?

– A maioria das coleções chega ao MIS por meio de doações, embora algumas tenham sido compradas para a inauguração do Museu em 1965, como, por exemplo, as coleções dos fotógrafos Guilherme Santos e Augusto Malta. É também do ano de inauguração do MIS a chegada da coleção Almirante. Henrique Foréis Domingues, o Almirante, foi um grande radialista, pesquisador, compositor, fez parte do Bando de Tangarás, e esteve à frente de importantes e inovadores programas da Rádio Nacional durante anos, tendo contato com diversos artistas, como Pixinguinha, Carmen Miranda, Noel Rosa, Braguinha, entre outros. Ele fez parte da constituição da Música Popular Brasileira. Assim como a coleção Almirante, é preciso destacar também as coleções de Augusto Malta e Guilherme Santos, fotógrafos que deixaram uma contribuição muito importante. Tanto um quanto outro retrataram a história da cidade, mas enquanto o primeiro tinha um cargo na Prefeitura o outro foi mais amador, no sentido de não tirar seu sustento do ofício de fotógrafo. Guilherme Santos, embora não tenha sido um fotógrafo oficial como Malta, ele possui igual importância, principalmente pelo registro da cidade durante décadas. Além de trabalhar com a técnica estereoscópica, que permitia a reprodução de imagens no formato tridimensional, o que equivaleria ao 3D de hoje.  Vários foram os momentos da vida da cidade e de seus moradores eternizados por esses fotógrafos, como as transformações urbanísticas e arquitetônicas, as práticas, os costumes e a sociabilidade das ruas. Há lindos registros do carnaval antigo, dos desfiles de corso, do lazer na praia, dos vestuários, da boemia carioca… enfim, o dia a dia da cidade era registrado pelas lentes deles. Já no cenário musical temos, por exemplo, o Diler, um grande fotógrafo dos artistas, que fez muitas e ótimas fotos nos anos de 1940 e 1950. Além também de termos outros importantes nomes de fotógrafos no Setor Iconográfico, esses já mais contemporâneos, como Thereza Eugênia, Wilton Montenegro, Walter Firmo, entre outros.

Quais são os desafios de se preservar todo esse acervo?

– Há muitos desafios, mas quando se ama o que se faz o cuidado acaba sendo redobrado, com atenção e consciência do que se está fazendo e a forma de como se faz para organizar, tratar, guardar, como guardar, tudo isso conta. Mesmo havendo limitações financeiras e apesar dessas dificuldades de recursos, conseguimos avançar. Grande parte dessas coleções já está catalogada, digitalizada e acondicionada, o que facilita a conservação dos itens originais. Disponibilizamos a partir desse trabalho de catalogação e digitalização terminais de consulta ao acervo com base de dados e imagens para os pesquisadores ou público em geral que queira acessar os itens, o que garante a maior preservação dos originais, pois assim se evita o constante manuseio dos mesmos e se previne quaisquer danos aos itens originais. Além disso, sempre colocamos vários exemplares nas mídias sociais da instituição para o conhecimento e divulgação do acervo junto ao público, o que facilita o acesso à informação do que temos e também democratiza esse importante acervo. Sem ter que manusear nenhuma peça, o pesquisador pode recorrer ao banco de dados disponível nos terminais de computador, que já apresentam uma mostra da imagem para consulta. Tudo isso ajuda a manutenção, conservação e preservação dos originais.

Há necessidade de restauração para as peças?

– Se faz o monitoramento frequente do acervo, que já está acondicionado em material apropriado para cada tipo de suporte. Por exemplo, fotografias em papel a gente utiliza o poliéster com cartão de alta gramatura que não seja ácido, para prolongar ao máximo a vida útil dos itens. O acondicionamento é muito importante porque ele também auxilia nessa condição de estender a vida útil dos itens e estamos aqui para preservar essa memória o mais possível. Todo item tem um invólucro próprio, alguns em caixas em formato cruz e entrefolhados, outros em caixas que permitem a aeração, dependendo sempre da especificidade e necessidade de cada suporte e suas características. Mesmo faltando um controle ideal de temperatura e umidade, temos fotos com mais de cem anos, em muito bom estado de conservação.

Qual é o perfil dos pesquisadores e frequentadores?

– Nós recebemos um público muito vasto e de formação também bastante variada. Recebemos estudantes, professores, pesquisadores de pós-graduação, e pesquisadores internacionais, de países como Portugal, Inglaterra, França, Alemanha que vêm ao MIS para pesquisar. São também arquitetos interessados nas fachadas do Rio Antigo e no urbanismo, jornalistas, músicos, historiadores, produtores culturais, entre outras áreas. Como o MIS possui um amplo acervo de imagens e som ligado a temas como música, história do rádio, história da cidade, etc., há um imenso número de publicações nas quais o MIS aparece sempre nas referências dessas obras.

Que exigências são feitas para a pesquisa e uso das imagens?

– Por conta da pandemia, é preciso fazer o agendamento para o acesso à Sala de Pesquisa, na sede da Lapa, onde são seguidos todos os protocolos de segurança contra a Covid-19. Dependendo do uso que será feito da imagem, há uma tabela de preço a ser pago. Há também a necessidade de preenchimento de uma documentação padrão para aquisição das cópias do acervo. O pesquisador interessado em obter essas cópias entra em contato pelo e-mail institucional de atendimento à pesquisa e faz a solicitação, a partir desse momento ele recebe o passo a passo do pagamento e do preenchimento do termo de responsabilidade de uso. Orientamos a obter a autorização dos detentores dos direitos, pois o MIS não detém o direito autoral, mas sim a guarda dos itens. Mas, de forma geral, as pessoas detentoras dos direitos autorais liberam o uso porque também entendem que é a preservação da memória e da história que está em questão.