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Guardião do tesouro musical do MIS

Pedro Dias, responsável pelo Departamento Sonoro do Museu, garimpa pérolas clássicas do acervo para as mídias digitais


Pedro Dias, responsável pelo Setor Sonoro do MIS, exibe um exemplar de picture disc, que era comum até a década de 1960. Crédito: Leonardo Ferraz/SECECRJ

–  Como é composto o acervo do Setor Sonoro do MIS?

–  O Setor Sonoro, como o próprio nome diz, é responsável pelos suportes que têm conteúdos sonoros. Ele está dividido em dois grupos básicos: fitas e discos. Temos as fitas de rolo, as de cartucho, que duraram pouco tempo no Brasil, e as cassete, que tiveram uso comercial muito forte. Em termos de discos, temos os de cera, os de acetato, os de vinil e, inclusive, os CDs, que já são digitais mas não deixam de ter esse formato também. Nos de acetato eram gravados programas de rádio, episódios caseiros até cartas. Nesse suporte, está grande parte da coleção da Rádio Nacional, que preserva parte da memória do rádio brasileiro, e é importantíssima par o MIS. Programas de variedades, esportivos, radionovelas, jornalísticos estão preservados nesse suporte. A música brasileira deve muito à radiodifusão para a divulgação em território nacional por parte da emissora. Em suma, são cerca de 60 mil documentos sonoros já catalogados no banco de dados. Número que deve crescer em cerca de 50% se levarmos em conta os itens sendo trabalhados, passando por um processamento técnico prévio até serem catalogados.

–  Quais são os cuidados necessários para se preservar esse acervo?

–  A preservação desses documentos consiste em diversas etapas, desde a documentação de entrada na instituição até o acondicionamento final. Os discos em vinil e cera precisam eventualmente serem limpos e para isso usamos uma mistura à base de água, que por incrível que pareça é o material mais adequado por ser menos invasivo possível. Na higienização do discos, em geral, utiliza-se água – evidentemente não qualquer água. Com o uso de pincéis específicos e produtos para conservação, os discos são lavados. Quando o suporte está muito deteriorado fazemos apenas a higienização mecânica. Temos a preocupação de preservar ao máximo os suportes para as próximas gerações, mesmo que alguns tenham ruídos. Apesar de já termos digitalizado 96% dos itens presentes no banco de dados e até ser possível editar esses ruídos, é preciso garantir a preservação desse material. Até porque não se sabe ao certo a capacidade de sobrevivência das novas tecnologias digitais.

–  Como é o trabalho de elaboração da programação da Rádio MIS RJ?

–  Quando a atual gestão colocou a rádio nas nossas linhas de ação, para o Setor Sonoro foi um ganho muito relevante, pelo espaço de difusão dessa memória, que faz parte do estado e do país. Ela tem um potencial muito grande de democratizar o acesso ao patrimônio cultural brasileiro. Quando fui convidado pelo presidente Cesar Miranda Ribeiro para fazer parte da curadoria da rádio, tive a honra de ganhar a responsabilidade de participar não só da seleção musical, mas também do direcionamento do que é veiculado. Trabalhamos com a premissa da preservação do patrimônio e da valorização dos grandes nomes da música. Por isso, também procuramos valorizar o acervo do Depoimentos para a Posteridades, sobretudo no programa Frequência MIS.

Discos de acetato de 78 rotações são riquezas do acervo do MIS. Crédito: Leonardo Ferraz/SECECRJ

–  Como está sendo o feedback dos ouvintes?

–  O retorno tem sido muito gratificante e enriquecedor ao mesmo tempo. Disponibilizamos um número de WhatsApp (021-96967-3570) justamente para recebermos sugestões dos ouvintes e dicas de playlists, de programação, de temas específicos e é um canal importante para isso. Houve alguns casos de pessoas que ouvindo os programas resolveram doar relíquias que possuíam em casa. Houve o caso de uma ouvinte, fã da cantora Linda Batista, que escreveu para nós sobre a admiração que tem por ela e pediu um programa sobre ela, o que estamos estudando. Um outro ouvinte resolveu doar um arquivo pessoal sobre Angela Maria, com discos raros e reportagens. Há sempre retorno. Isso nos aproxima da nossa comunidade e ajuda a criar cada vez mais pontes com ela.

–  Como está o tratamento da coleção Paulo Tapajós, que foi doada recentemente ao MIS?

–  Temos uma estimativa de que ela contenha 16 mil itens. Desse total, até agora já foram levantados 4 mil discos de cera aproximadamente. Ele era maestro da Rádio Nacional, produtor de programas e regente da emissora durante um tempo. Foi muito envolvido com a música sua coleção contém muitas pérolas, como os discos de cera da fase mecânica, quando ainda eram gravados e tocados à manivela. Também tinha os picture discs de cera em 78 rotações, que contém imagens gravadas dos dois lados, e que foram produzidos até 1962. Só desse tipo de suporte vamos dobrar o número de itens no museu e como um todo a coleção enriquece em muito o nosso acervo. Foi um dos grandes maestros da história brasileira e regeu e conviveu com diversos artistas, a nata da música popular brasileira, como Jabob do Bandolim, Linda Batista, Elizeth Cardoso.