O mineiro Ricardo Amado atua no cargo de liderança entre os violinistas da OSTM desde 2002
Por SECEC-RJ em 16/06/2021
– Como o senhor definiria a função do spalla numa orquestra?
– Apesar de ser mais conhecido pela atuação na orquestra sinfônica, o spalla está presente também nas orquestras filarmônicas e até de câmara. Sua função é bastante nobre, pois é um violinista que precisa ter o melhor preparo possível para executar os solos. Quer queira ou não, ele fica mais exposto por isso. Mas, na minha trajetória, aprendi que uma das reponsabilidades de um spalla é de atuar como um interlocutor entre o maestro e a orquestra. Spalla em italiano quer dizer ombro e não é à toa. Nossa função é mesmo de apoio, de intermediário, recebendo a confiança do maestro. Ele serve como um ponto de equilíbrio e harmonia numa relação que nem sempre é tranquila. Há situações que acabam extrapolando e o spalla, junto a outras lideranças da orquestra, ajudam a equilibrar todo o processo.
– Como foi sua passagem de violinista comum para spalla?
– Foi uma passagem bastante natural porque acredito que tenho uma vocação para a liderança por me cobrar muito. Procuro compreender o limite do grupo e encontrar o que cada um pode dar de melhor. Eu sempre me dedico a encontrar soluções harmoniosas no trabalho também. Foi assim que me tornei Spalla da Orquestra da UFF em 1994 e depois continuei. Apesar de só ter ingressado efetivamente como spalla no Municipal em 2002, já a partir em 1998 participei de algumas apresentações nessa função esporadicamente. Ingressei por concurso na casa, mas logo recebi o convite para assumir a função.
– Quais são suas referências no mundo da música?
– Uma das minhas maiores realizações foi ter tocado sob a Regência do Rostropovitch [Mstislav Rostropovitch, violoncelista e maestro russo, nascido em 1927 e morto em 2007] no Municipal em 2002. Ele foi um mestre e uma referência para mim e para uma legião de músicos atuam com a música clássica. No Brasil, ele regeu a orquestra para a apresentação do balé “Romeu e Julieta”. Foi a realização de um sonho e apesar do peso que tinha, me deixou bem à vontade e deixou uma carta de recomendação com elogios à minha participação. Ele tinha uma energia incrível regendo. Outra referência é o Leon Spierer [violinista alemão]. Ele foi spalla da Filarmônica de Berlim durante 30 anos, parte dos quais ao lado do maestro Karajan [Herbert von Karajan, maestro austríaco nascido em 1908 e morto em 1989], outra referência para mim. Esses nomes são importantes de serem lembrados porque foram pessoas que ajudaram a popularizar e divulgar a música clássica. Foram grandes artistas e grandes gestores.
– Neste momento de pandemia, a programação do Municipal está sendo transmitida online. Como foi sua experiência de gravar nessas condições?
– Estamos seguindo o padrão de segurança da Fiocruz. Há controle de temperatura na entrada, álcool em gel, máscara e ao chegarmos, desinfectamos os cases dos instrumentos. Obviamente há um desconforto, mas é necessário. Como os nossos concertos são somente cordas, o distanciamento social já é suficiente. Havendo sopros, teremos que usar as proteções de acrílico. Ensaiamos duas vezes antes e a gravação transcorreu muito bem. Estamos felizes, por outro lado, porque as gravações estão deixando registrada a qualidade artística dos servidores do Municipal. Enquanto outras casas gravam CDs, DVDs e estão até nas plataformas de streaming, aqui as gravações são raras. Creio que antes só havia uma gravação da orquestra feita na década de 1970. Torço para que não acabem, mesmo depois da pandemia. [Assista ao concerto no link].