Pesquisador dá sua contribuição para a série ‘Depoimentos Para a Posteridade’, que criou há 55 anos
Por SECEC-RJ em 22/09/2021
– Qual foi sua emoção ao ter contribuído com a série “Depoimentos para a Posteridade” do MIS, que ajudou a criar em 1966?
– Voltar ao Museu da Imagem e do Som para gravar aquilo que foi o esboço da definição do prestígio, da celebridade e da cristalização do Museu em 1966, quando eu criei o Depoimento, foi certamente um momento de forte emoção para mim. Um dos segredos do sucesso da série foi a inserção da palavra-chave “posteridade”. Isso gerou uma concorrência de interesses e desejos de toda a estrutura que tem alguma importância no Brasil para ser registrada nesse panteão. Essa foi a grande causa da vivificação e prestígio do Museu. Claro que me levou a uma forte emoção o convite do meu estimado presidente Cesar Miranda Ribeiro para fazer o depoimento, celebrando o aniversário do MIS.
– Apesar da emoção, o senhor ficou bastante à vontade?
– Claro, até porque as perguntas foram feitas por amigos queridos, como eu imaginei e defini desde o começo. Pessoas fariam depoimentos muito mais testemunhais, do que científicos ou sociológicos. Ficam totalmente à vontade. Essa é a base que eu criei e que foi replicada no Brasil inteiro. Recebi vários convites para fundar museus dezenas de vezes, o principal dos quais o Museu da Imagem e do Som de São Paulo, fundado e elaborado por mim ao lado de Rudá de Andrade, infelizmente já morto. Até hoje um museu muito bem sucedido.
– Qual é a importância do Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira para os apaixonados pela música nacional?
– Ele foi considerado pela Unesco como o maior banco de dados em música popular do mundo. Em termos de dicionário musical, o maior é da Alemanha, dedicado às óperas dos grandes autores, onde o governo alemão gasta muito dinheiro. No nosso, há apenas bolsas de estudo custeadas em parceria com a Faperj, desde 2001, quando criamos o dicionário e o instituto para abrigá-lo. Ele também é uma enciclopédia. Ele tem verbetes para os gêneros e instrumentos musicais. O samba com suas múltiplas classificações e a bossa nossa que não é senão o samba. A música sertaneja, regional, o início da indústria fonográfica… Está tudo lá.
– Como será a dinâmica do seu programa na rádio Roquette Pinto?
– Comecei minha carreira de radialista e tenho muito orgulho disso. Me diversifiquei muito na vida. Já tive várias profissões paralelas, como de escritor, musicólogo, conferencista, historiador, etc., mas o que mais me atraiu e mais me consolou na vida foi o fato de ter o microfone à frente para espalhar ideias e poder contribuir com a difusão de informações corretas. O programa se chama “Carioquice” e vai ao ar todo sábado às 9h. Procuro levar música e informação de qualidade aos ouvintes.
– E com relação aos seus novos projetos?
– Estou lançando nesta quarta-feira (22) à noite (às 19h), pelo canal da Livraria da Travessa no YouTube, o livro “Pandemia e Pandemônio”, com textos de apresentação de Nélida Piñon e Margareth Dalcolmo, uma infectologista que defendeu a necessidade do cidadão brasileiro se proteger dessa malignidade, uma peste que já matou 600 mil pessoas no país, o que é uma coisa gravíssima. É um roteiro do que ocorreu no trágico ano de 2020.
– A pandemia lhe abalou?
– Como a todo mundo. Fiquei confinado aqui na Urca há um ano e meio. No começo eu fui um dos primeiros a ver essa possibilidade de que isso geraria grandes compulsões psicológicas e psiquiátricas às vítimas que estavam recolhidas. Estou recolhido há quase dois anos e privado de convívio, de abraço, de contato com as pessoas, cinema, teatro e isso aflige a existência de uma pessoa que passou justamente a vida inteira fazendo exatamente essas coisas. Não estou deprimido, na cama, nada disso e até estou trabalhando muito. Estou ansioso até para que essa pandemia acabe para poder entrar de férias, porque tenho trabalhado mais do que nunca.