Peça do século XVIII, retirada do local de origem na década de 70, será entregue à equipe que faz a restauração do imóvel
Uma fechadura sem muitos ornamentos, de desenho tão austero quanto a arquitetura do imóvel a que pertencia, o Convento do Carmo, na Praça XV, foi recuperada nessa quarta-feira (17/07) pelo diretor-geral do INEPAC, Claudio Prado de Mello.
Para reavê-la, o funcionário da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa fez um trabalho de detetive, menos pelo valor material do objeto e mais por sua simbologia histórica: a fechadura guardava a porta dos aposentos de Dona Maria I, que preferia dormir na companhia das freiras do que no Paço Imperial, ao lado, na Praça XV, onde morava a família real. Havia na época, inclusive, um passadiço ligando os dois prédios.
Dona Maria I, mãe de Dom João VI, apelidada em Portugal de “A Piedosa” e no Brasil de “A Louca”, foi Rainha de Portugal e Algarves e Rainha do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves de 1815 até 1816, quando morreu, oito anos depois de chegar ao Rio de Janeiro. Com problemas mentais desde 1792, foi obrigada a passar a regência para o filho João em 1799.
O Convento do Carmo (das freiras carmelitas) teve muitos usos depois do retorno da família real a Portugal. O quarto onde a rainha viveu permaneceu, no entanto, razoavelmente preservado até que a Faculdade Candido Mendes, na década de 1970, resolveu restaurar o prédio, iniciando um processo de desocupação turbulento.
Temendo que a fechadura do cômodo fosse furtada, como infelizmente acontece no Brasil com muita regularidade em relação às fechaduras e maçanetas históricas, o restaurador e jurista Francisco Ramalho levou a peça consigo, não sem antes avisar aos profissionais da área que devolveria o item assim que o prédio estivesse em segurança.
Apenas em 2008, no entanto, o Convento foi tombado pelo INEPAC e, em 2018, começou a atual obra de restauração, com recursos da Procuradoria-Geral do Estado e prevista para durar até 2022. Em setembro do ano passado, no entanto, Francisco Ramalho morreu e seus familiares repartiram seus bens. Com a ajuda de um amigo em comum, o restaurador José Marconi Andrade, Claudio Prado de Mello conseguiu os contatos dos parentes de Ramalho e recuperou a fechadura nessa quarta-feira, na Glória, na casa da irmã do restaurador falecido.
O item já está sendo inventariado pelos técnicos do Departamento de Bens Móveis e Integrados do INEPAC e depois será entregue à equipe que atualmente faz a restauração do Convento do Carmo, na Praça XV.