fbpx

Escola de Artes Visuais é referência na formação de artistas e profissionais da Cultura

Yole Mendonça dirige instituição do Parque Lage, que se mantém há décadas revelando talentos


Yole Mendonça diz que visitação agendada trouxe mais comodidade para os visitantes e demais frequentadores do palacete do Parque Lage. Crédito: Leonardo Ferraz/SECECRJ

–  Como está se dando a retomada das atividades presenciais pela EAV?

–  Está ocorrendo paulatinamente, mas na realidade nunca chegamos a ficar totalmente parados. Adotamos de imediato as aulas online no ano passado e houve a reabertura da visitação ao parque e ao palacete em julho de 2020. Ocorreu até um fenômeno curioso que foi um aumento muito grande da procura no verão passado e as filas para a entrada na sede eram preocupantes. Para se ter uma ideia, em janeiro registramos a entrada de 75 mil pessoas no parque. Por isso, a partir de fevereiro iniciamos o agendamento pela internet. Esse método deu muito certo e estamos pensando até em mantê-lo permanentemente porque deu mais conforto ao visitante e trouxe uma convivência melhor com as nossas atividades administrativas e educacionais. Por enquanto, estamos respeitando o limite de 40% da capacidade, mas podemos ampliá-lo conforme avançar a vacinação.

–   E com relação às aulas presenciais?

–   Temos alguns cursos em formato de oficina que não se adaptam ao formato online, pois precisam de ferramentas e materiais de grande porte que os alunos não possuem em casa. Por isso, desde abril estamos retomando os cursos presenciais, como o de escultura, na oficina 3D, de xilogravura, litogravura, nas oficinas de gravura. Agora no segundo semestre, estamos com uma grade de 50 cursos, sendo sete deles presenciais. Seguimos critérios rigorosos de segurança, com lugares marcados, higienização dos materiais e número reduzido de alunos. No entanto, vamos continuar com as aulas virtuais, que permitem a participação de alunos do Brasil inteiro e até do exterior. É bom para a Escola ampliar seu público. [Veja a relação de cursos no link.]

–   Em que medida os cursos da EAV auxiliam na formação profissional das pessoas?

–  Nossos cursos não têm a característica formal ou profissionalizante, pois são cursos livres. Mas alguns se relacionam ao campo de atuação profissional da Cultura, além disso enriquecem demais o currículo dos alunos que desejam atuar profissionalmente. Um exemplo é o Luz e Cena, de iluminação e cenografia, que é procurado por pessoas que desejam ou possuem atuação profissional no mercado. Os alunos aprendem com os melhores profissionais da área. São cursos semestrais, que podem ser complementados por outros também mais longos, sem contar os casos em que há todo um acompanhamento do trabalho artístico dos alunos por parte dos professores, sem prazo fixo para acabar.

–  As exposições também vão se intensificar a partir de agora?

–  Já tivemos uma exposição com público, que foi a “Hábito/Habitante”, realizada entre maio e junho, que trabalhou com interatividade e performances. Elas eram filmadas para transmissão pelas redes sociais e pelo site. Eram como lives, mas ficaram arquivadas. Temos uma programação já montada, mas ainda estão fechando as datas. Acreditamos que em outubro, com a pandemia mais controlada, poderemos realizar de novo a jornada voltada para as crianças e jovens.

–  Ao longo do tempo, a EAV acumulou uma série de trabalhos artísticos, que acabaram formando um acervo. Como está gestão dessas coleções?

–  A Escola recebeu de fato muitas doações de professores, ex-professores e alunos, que estão expostas nas paredes do palacete e preservadas na reserva técnica. Tudo bem catalogado e guardado. Também recebemos múltiplos, que comercializamos em feiras, na loja ou online, como trabalhos em serigrafias e gravuras, por exemplo. Isso gera uma renda importante para nós. Tudo catalogado e pode ser comprado pelo site, como a coleção Amigo EAV. Esse acervo também enriquece nossas exposições ou pode virar empréstimos para mostras em outros lugares, a pedido dos curadores.

–  A EAV revelou muitos nomes famosos das artes plásticas brasileiras. Ela continua sendo um celeiro?

–  Tivemos pessoas muito boas no passado, que ganharam renome. Um exemplo emblemático foi o da chamada Geração 80. Eles despontaram através de uma exposição realizada aqui em 1984 intitulada “Como Vai Você, Geração 80?”. Nela, estavam artistas como Beatriz Milhazes, Jorge Guinle, Leonilson, Leda Catunda, Luiz Zerbini, entre outros. São nomes que depois passaram a ser reconhecidos até internacionalmente. Por coincidência, eu estava na direção do CCBB do Rio 20 anos depois, quando houve uma exposição para relembrar esse período e chamou-se “Onde Está Você, Geração 80?”. Mas a Escola continua revelando nomes nas artes plásticas e novos ex-alunos têm espaço em galerias famosas. É o caso do Yuri Cruz, Mulambö, Laís Amaral, Ana Almeida, só para citar alguns nomes.

–  A que se deve esse resultado?

–  Isso se deve à liberdade dos cursos, que são um encontro muito frutífero. O método livre da Escola, o contato com professores que já estudaram a história da arte e toda essa efervescência e inconformidade são muito potentes e continuam existindo. É o que leva as pessoas a procurarem a escola e o convívio com outros artistas.

Projeto de restauro do palacete pode sair do papel com a participação de patrocinadores. Crédito: Leonardo Ferraz/SECECRJ

–  Há a intenção de restaurar o palacete e o entorno?

–  Temos um projeto de restauro que está pronto e alinhavado. Inclui o palacete, que completou 100 anos este ano. Temos a intenção de obter a verba para isso através dos editais. Como aqui é um espaço vivo, visitado, conhecido e reconhecido pela população que o frequenta, acreditamos muito no interesse dos patrocinadores. Ainda por cima há a data do centenário. E tem a possibilidade de ser feito em módulos, o que permite aportes ao longo do tempo. O restauro das cavalariças e das áreas verdes poderia ser feito separadamente. É um espaço maravilhoso de convivência que precisa ser cada vez mais valorizado.