Museóloga Laura Ghelman, coordenadora do Centro de Documentação da casa de espetáculos, fala das transformações e marcos dessa joia carioca e fluminense
Por SECEC-RJ em 14/07/2021
– O Theatro Municipal está completando 112. Como seu setor está envolvido nas comemorações do aniversário?
– Terei a honra de participar de uma live nesta quinta-feira, dia 15, junto com a arquiteta Marisa Assumpção (chefe do Serviço de Arquitetura e Conservação) e a educadora do Theatro, Diana Magalhães. Cada uma vai falar sobre sua área específica e pretendo contribuir passando informações sobre o acervo museológico e documental, que compõem a base do Centro de Documentação. Vamos contar a história desses 112 anos, a partir do acervo do Theatro. Será transmitida pelo Facebook a partir das 19h.
– O que é mais surpreendente no acervo do Cedoc?
– É um acervo muito variado, que mostra a evolução do Theatro, com muitos documentos originais da Casa. O que ele mostra que talvez seja mais surpreendente ou pouco comentado seja a mudança de uma programação mais dramática para uma mais voltada para o repertório clássico, com balés, óperas e apresentações de orquestra. Essa mudança ocorreu na década de 1970 e está muito bem documentada. A programação até hoje continua totalmente aberta, com a realização de shows, premiações, etc., mas é interessante ver que nesse período houve realmente essa mudança. Nas décadas de 1970 e 80, houve muitas parcerias com outros teatros, como o Colón, de Buenos Aires, o que deve ter impulsionado essa tendência para o clássico.
– O Theatro foi construído numa época de remodelação da cidade e foi um ícone dessa transformação, que deu ao Rio um outro status. Até hoje ele cumpre um papel de valorização da cidade?
– Foi uma época em que queriam transformar o Rio de Janeiro numa capital com feições mais europeias e grandiosas. Um teatro de grande porte era algo que faltava à cidade. Éramos uma capital, mas os teatros eram muito menores. Ele teve, dessa forma, esse papel de tornar o Rio mais suntuoso como capital do país. Tanto que já nasceu com eletricidade. Tinha até uma usina própria de geração de energia. O Rio não tinha um teatro à altura das companhias internacionais de grande porte. Até hoje é uma joia da nossa cidade e do nosso estado. Ele continua desempenhando esse papel de palco para comemorações e atrações internacionais e contribuiu para projetar o Rio como metrópole.
– Quais são os marcos principais na história do Theatro?
– Um dos marcos mais importantes foi a constituição da Orquestra própria, que ocorreu em 1931. Depois houve a criação dos outros dois corpos próprios, o de Baile e o Coro. É a única casa de espetáculos do Brasil com esses três corpos estáveis. As restaurações tanto da década de 1970 quanto a do centenário em 2009 também foram importantes na história do Municipal.
– Que personalidades do mundo da ópera e da música clássica se apresentaram na Casa e marcaram sua história?
– Além da Maria Olenewa, algumas bailarinas brasileiras também como a Márcia Haydée, que foi várias vezes primeira bailarina convidada, e a Tatiana Leskova deixaram sua marca na história do Municipal. A Bidu Sayão foi outra figura importante que se apresentou muitas vezes aqui no Theatro, mesmo depois de ser uma grande cantora em Nova York. Entre os tenores, não há como não citar o Luciano Pavarotti, se apresentou aqui algumas vezes. Mas também nomes da música popular internacional são orgulho para Casa, como Aretha Franklin e Ray Charles. Bailarinas que fazem parte da prata da Casa, como a Ana Botafogo e a Claudia Mota, também fizeram história no palco do Municipal.
– Ocorreram muitas modificações no teatro ao longo do tempo?
– Não houve nenhuma mudança arquitetônica significativa. A restauração da década de 1970 foi focada nas depredações internas verificadas por causa dos bailes de carnaval, que ocorreram a partir da década de 1930. Eles ocorriam na Plateia, e para isso eram retiradas as cadeiras. Esses bailes foram realizados durante mais de 30 anos e resultaram em depredações, que foram observadas nessa obra. Já na restauração de 2009 devolveu-se o brilho externo do Theatro. Foi uma restauração muito fiel e fidedigna, que respeitou padrões conceituais de conservação e preservação de bens históricos e recuperou a beleza original desse monumento, dando a ele a importância que ele merece.
– Como é composto o acervo do seu setor?
– Ele é composto por coleções variadas, sendo que uma das mais importantes é do pintor Eliseu Visconti. O acervo do Museu do Teatro também é muito importante, pois reúne coleções de vários teatros do Rio de Janeiro. Temos também as plantas do concurso para a construção, obras de arte e peças, como cristais e louças. Além disso, acervos de outros maestros e músicos e de artistas, como Rodolfo Bernardelli e Bidu Sayão. Documentação original e administrativa do teatro desde 1904 também enriquecem o setor.
– Que mudanças está implementando no setor?
– Vamos focar na conservação do acervo e na disponibilização online de mais peças. Também pretendemos inserir a catalogação online dos elementos arquitetônicos, que é o acervo integrado, ou seja, as pinturas, esculturas, etc, mais um recursos para que todos possam observar as obras sem necessariamente vir aqui ou participar da visita guiada. O acervo do Cedoc já está em sua maioria catalogado. O banco de dados pode ser consultado através do Sisgam, Sistema de Gerenciamento de Acervos Museológicos do estado. A maior parte já está disponível para a consulta online, mas pretendemos ampliar esse conteúdo, para que todos possam consultar pelo computador. É uma forma de democratizar ao máximo o acesso. As consultas presenciais continuam sendo feitas através do agendamento, a partir do preenchimento do formulário no site do Theatro.