Carnaval, quatro dias de aulas de História e Cultura na Sapucaí
Por SECEC-RJ em 23/09/2019
Muito mais do que entreter o público, o carnaval tem uma função primordial, que é a de transmitir cultura de uma forma lúdica.
A “festa profana”, seja nos blocos ou nos desfiles da Marquês de Sapucaí, é uma das formas mais democráticas de expressão do povo e os enredos e sambas-enredo são a maneira de retratar histórias muitas vezes desconhecidas do grande público.
Didático, reflexivo ou meramente jocoso, o propósito é provocar o entendimento do espetáculo dando, literalmente, um banho de cultura no espectador.
O próprio termo “escola de samba” surgiu em uma roda de amigos liderada por Ismael Silva, no velho Estácio.
Segundo registros orais, os boêmios que se reuniam ao pé do morro de São Carlos para fazer música resolveram adotar o termo ao concluir que havia escola para quase tudo, menos para o samba.
Nos perguntamos se Ismael, há um século, poderia imaginar que enredos e sambas-enredo fariam parte, inclusive, de questões de concursos públicos.
Da Deixa Falar para a Sapucaí, o visionário compositor talvez jamais pudesse prever que sua “escola de samba” teria papel fundamental na difusão do saber, erudito ou popular de temas que tornaram-se universais.
O samba desceu o morro, tomou o asfalto e uniu todas as pontas em torno de um evento realizado por artesãos, profissionais liberais, acadêmicos, estudiosos e historiadores.
Dentro desse universo altamente democrático, as escolas de samba e seus profissionais levam a 142 países formação e informação. Festa da carne? Não, festa do povo que se vê representado em todas as suas vertentes, no espetáculo que alcançou o status de maior do planeta.
E a cultura? Personagens pouco ou totalmente desconhecidos do grande público foram retratados dentro desse cenário.
Enredos desenvolvidos pelos tradicionais “professores” Rosa Magalhães, Fernando Pamplona, João Trinta e, mais recentemente, pela nova geração liderada por Leandro Vieira, mostraram Brasis, desvendaram a história e fizeram da reunião de bambas um verdadeiro espetáculo que, se outrora era puro entretenimento, hoje é geração de emprego, oportunidade de negócios, incentivo ao turismo e fomento cultural para o Estado.
A capacidade que as escolas de samba têm, em 80 minutos, de levar à luz personagens ocultos é inimaginável.
Quando se “desvenda” o Theatro Municipal e toda a sua história em um palco como a Sapucaí, abrem-se as cortinas do saber.
Desde a introdução de personagens não presentes na História Oficial, fato que se deu a partir da série de enredos desenvolvidos por Fernando Pamplona e sua equipe no Salgueiro da década de 1960, as escola de samba tornaram-se uma grande fonte de conhecimento para um público que não tem acesso à educação e à cultura.
Vários aspectos da História do Brasil e mesmo obras literárias foram levadas a esse grupo. Da saga de Zumbi dos Palmares até os dias de hoje, uma infinidade de conhecimento é injetada em doses regadas à alegria.
Quando se canta um poema de Drummond, como a Vila fez em “Sonho de um Sonho”, ou quando se discute a condição social em “Ratos e Urubus”, uma verdadeira universidade passa na avenida.
Temas são revelados, discutidos e apresentados. Alguns deles imortalizados em letras e cenas como uma grande ópera popular.
Mais que entretenimento, o desfile reforça a tradição de se mostrar o mais importante da cultura brasileira, e é por isso que o investimento vale a pena.