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No aniversário de 80 anos de Chico Buarque, o MIS revela porque o seu depoimento foi considerado polêmico em 1966


Hoje, 19 de junho de 2024, Francisco Buarque de Hollanda completa 80 anos. E o Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro celebra em grande estilo o aniversário do cantor, compositor, dramaturgo e escritor Chico Buarque. A Playlist Chico 80, com músicas que viraram clássicos como “A banda”, “Pedro Pedreiro”, “Olê, olá”, “Gente humilde”, “Essa moça tá diferente”, “Meu refrão”, e muito mais, está disponível em três horários diferentes: 9h, 15h e 21h, na Web Rádio MIS RJ. Além de um vídeo comemorativo, com trechos do Depoimento para a Posteridade, quando Chico Buarque tinha apenas 22 anos, e a participação especial de Ricardo Cravo Albin comentando a entrevista que conduziu em 11 de novembro de 1966.

“Chico Buarque é um grande artista e merece ser celebrado por todos os brasileiros! Genial compositor, um dos mais importantes da Música Popular Brasileira. São mais de mil itens do cantor que o MIS salvaguarda em todos os setores. E claro, o seu histórico Depoimento para a Posteridade. No vídeo, o público vai ouvir trechos da gravação, com o Chico narrando fatos do seu início de carreira, e também o relato de Ricardo Cravo Albin, então diretor do museu à época, contando a polêmica em torno desse depoimento”, afirmou o presidente do MIS RJ, Cesar Miranda Ribeiro.

Trabalhar no MIS RJ é descobrir pérolas em um acervo infinitamente rico, diverso, múltiplo, de quase um milhão de itens, cada qual com brilho próprio! Cada projeto tem um quê de muita história, pesquisas em fontes primárias e uma gama de possibilidades, como na homenagem ao Chico 80! Foi um mutirão no melhor sentido da palavra, a equipe toda contribuindo para que a celebração estivesse à altura do aniversariante! E aquele sexto depoimento, na sequência de nomes como João da Baiana, Heitor dos Prazeres, Pixinguinha, Capiba e Bororó, gravado na manhã de sexta-feira, às 11 horas e trinta e cinco minutos, de 11 de novembro de 1966, na sede da Praça XV, com um Chico Buarque muito tímido, cercado de jornalistas, estudantes e curiosos, era uma dessas raridades à espera do momento certo para ser revelada.

Para descobrir porque o nome do Chico foi vetado pelos 40 membros do Conselho de Música Popular Brasileira, e o que levou Cravo Albin a insistir com a gravação do compositor, passando à frente de outros artistas com uma trajetória consolidada como Dorival Caymmi, Ataulfo Alves e Braguinha, era necessário ouvir a única pessoa responsável pelo feito histórico!

E Ricardo Cravo Albin recebeu a equipe do museu, Klaus Wilken, cinegrafista; Mariana Cigolo, Mídias Sociais; e Márcia Benazzi, gerente de produção, em uma tarde quente de maio de 2024, no Instituto Cultural Cravo Albin (ICCA), na Urca. Emocionante vê-lo lembrar daquela gravação de 1966, com tanta alegria e vivacidade, mesmo passadas quase seis décadas. Foi um mergulho no tempo, voltar aquele início do MIS RJ para compreender o impacto que os Depoimentos para a Posteridade causavam no público, na imprensa e na sociedade.

Em seu relato, Cravo Albin disse – ” Foi o depoimento mais original do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, que estava no auge. Foi excepcional, de grande polêmica na época, o de Chico Buarque, aos 22 anos. Essa admiração de crítico e de diretor do MIS por um jovem talento era, naturalmente, muito visível, porque o Chico Buarque sempre chamou a atenção da crítica e das pessoas atentas aos desenvolvimento da música popular, por um talento fulgurante, e atingiu a mim, a percepção desse talento fulgurante. Então, eu levei ao Conselho Superior de Música Popular, com 40 titulares, a proposta de Chico Buarque gravar, cumprindo 22 anos de idade. Todos se espantaram. Como? Mas nós estamos aqui a gravar ainda, Dorival Caymmi, Di Cavalcanti, Humberto Mauro, Luís Peixoto, Patrício Teixeira. Como? Ultrapassar Chico Buarque essa gente que tem mais 70, talvez 80, alguns deles. Eu disse, lembrava que a vida era surpreendente! E surpreendeu a música popular a morte de Noel Rosa antes de cumprir 27 anos de idade. A primeira vez o Conselho negou a minha proposta. Eu insisti, e na segunda vez o Conselho aprovou, fui vitorioso, e Chico Buarque veio ao museu, aos 22 anos, e fez o seu registro para a posteridade”.

Conduzido por Ricardo Cravo Albin, Ary Vasconcelos e Ilmar Carvalho, o depoimento de Chico Buarque começou da forma clássica: filiação, nascimento no Rio de Janeiro, a infância em São Paulo, quando destacou que sempre foi moleque; a mudança para Roma quando criança; as composições antes dos 8 anos de idade; que ouvia Noel Rosa porque os pais gostavam muito (Sérgio Buarque e Maria Amélia); cantou a primeira música que compôs aos 15 anos “Anjinho de papel”; a influência da Bossa Nova, Vinícius de Moraes e João Gilberto. Revelou também que a primeira música que começou a gostar de ouvir foi “Pedro Pedreiro” – “Pedro Pedreiro pra mim é diferente de tudo, eu já comecei a gostar mesmo do que eu fazia, como eu gostava antes das coisas que os outros faziam”; que o seu sucesso estrondoso, “A Banda” surgiu, segundo ele – “eu estava com fome, foi na hora do almoço”; perguntado sobre a máquina do sucesso, timidamente disse, rindo – “me sinto mal pra burro”. Chico Buarque cantou seus sucessos neste registro histórico, músicas recém lançadas naquele emblemático ano de 1966, e que passados muitos anos, décadas, o Brasil inteiro continua cantando!

Quer ouvir este depoimento na íntegra? Ou pesquisar outros itens, são mais de mil, que o MIS RJ salvaguarda em seu acervo referentes a Chico Buarque? Para acessar os textos, fotos, discos, partituras, entrevistas, livros, o seu célebre Depoimento para a Posteridade (1966), e a sua participação, como entrevistador no Depoimento de Tom Jobim, de 1967, ao lado de Vinicius de Moraes e Oscar Niemeyer, basta enviar e-mail para saladepesquisa@mis.rj.gov.br e agendar uma visita ao Centro de Pesquisa e Documentação Ricardo Cravo Albin.

Todo esse rico material sobre Chico Buarque, trajetória tão fundamental para a nossa cultura, que continua a encantar gerações em 2024, com a sua música, seus versos, livros premiados e obras consagradas no Brasil e no exterior, está à disposição do público e dos pesquisadores. Será um prazer recebê-lo! O Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro integra a rede de equipamentos culturais do Governo do Estado e está vinculado à Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro (Sececrj).