No Dia do Pintor, grupo entrega intervenção no Escadão do Sereno aos moradores
De pequenas paredes e telas, até grandes obras famosas, a pintura tem a capacidade de emocionar e dar vida a momentos, sensações, objetos ou lugares. E na semana em que comemora-se o Dia Nacional do Pintor (18/10), o projeto Escadaria das Artes entrega a conclusão da intervenção artística no Escadão do Sereno, que dá acesso aos morros do Sereno e Caixa D’Água, no conjunto de favelas da Penha, Zona Norte do Rio de Janeiro. O local passou por uma grande transformação e, agora, através da arte, carrega as memórias e identidades dos moradores.
Por meio de cores quentes e vivas, que destacam as características do Rio de Janeiro, o coletivo formado pelos artistas Loo Stavale, Thalles Olgador e Thiago Ortiz, todos oriundos das Zonas Norte e Oeste da capital, utilizou diversas ferramentas para pintar a história dos territórios da Penha. O trabalho do grupo que forma o Escadaria das Artes foi construído através de uma parceria entre o Observatório de Favelas e o projeto cultural Arte Transformadora, com patrocínio da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, através do edital Rua Cultura RJ.
De acordo com Loo Stavale, 32 anos, a concepção da intervenção artística foi toda feita baseada nas conversas e histórias contadas pelos moradores dos morros da Caixa D’Água e Sereno.
“Durante a realização do trabalho, tivemos a oportunidade de conviver e conhecer muitos desses moradores, pessoas acolhedoras, que se mostraram muito contentes com o nosso trabalho na escadaria. Foi uma rotina diferente de tudo que já fiz, pela participação da comunidade na concepção e produção da pintura”, explica Loo.
Para Thiago Ortiz, 35 anos, um local só se torna presente nas pessoas quando há a noção de pertencimento ao lugar. E esta foi a intenção ao convocar a comunidade para participar da intervenção.
“Toda a equipe do projeto mergulhou nas histórias narradas por alguns moradores. O resultado dessa imersão ultrapassou as bordas do lugar, as linhas de fronteira social e cultural. O envolvimento com os membros das duas comunidades foi o nosso maior presente. Fomos acolhidos, festejados. Os moradores não pouparam esforços para ajudar na criação de suas próprias histórias”, ressalta.
Membro mais novo do grupo, Thalles Olgador, 30 anos, conta que sempre foi muito influenciado, desde criança, pelo desenho e pintura. Para ele, o Rio de Janeiro é responsável por sua formação cultural e identidade.
“Recebi o convite para fazer essa intervenção e fiquei realizado. Foram alguns dias de conversa e imersão para a gente poder entender a realidade dos moradores. Esta experiência proporcionou um aprendizado, bagagem e consciência de integração social muito grande”, avalia Thalles.
Além da intervenção artística na escadaria, também será realizada uma oficina para 50 crianças dos territórios, a partir da articulação local do projeto Arte Transformadora. As ações são acompanhadas ainda pela equipe da produtora Camisa Preta, que está produzindo um documentário sobre o processo.
A intervenção contou com mediação de Stéphane Marçal e Jean Carlos Azuos, respectivamente educadora e curador do Galpão Bela Maré, apoio dos artistas Jeff Seon e Ana CCPR, e coordenação de Rebeca Brandão.
Inédito em território fluminense e com uma premiação total de R$ 6 milhões, o edital Rua Cultural selecionou 48 ambientações urbanas que utilizam as seguintes linguagens artísticas: grafite, stencil, pintura livre, mosaico, sticker, lambe-lambe, muralismo, pintura mural, entre outros. Os escolhidos receberam o valor de R$ 125 mil para realização do projeto.
O edital atendeu as seguintes cidades: Cabo Frio, Rio das Ostras, Comendador Levy Gasparian, Itaguaí, Barra Mansa, Valença, Volta Redonda, Rio de Janeiro, Belford Roxo, Duque de Caxias, Mesquita, Nilópolis, Nova Iguaçu, Queimados, Itaboraí, Maricá, São Gonçalo, Tanguá, Campos dos Goytacazes, Quissamã, São Francisco do Itabapoana, Bom Jardim e Petrópolis.