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‘Quem tem um livro, tem um amigo’

Yke Leon, superintendente de Leitura e Conhecimento da SECEC, defende bibliotecas mais inclusivas


Superintendente de Leitura e Conhecimento da SECECRJ, Yke Leon fala das iniciativas de estímulo ao hábito de ler e para tornar as bibliotecas mais inclusivas

Yke Leon atua na ampliação do acesso à leitura em todo o Estado do Rio. Crédito: Fred Pontes/SECECRJ

Como as bibliotecas podem ser tornar mais inclusivas?

– Temos um modelo no nosso estado, que é a Biblioteca Parque Estadual, no Centro da capital. Nela há, por exemplo, acervo de livros em braile e equipamento para leitura de quem tem dificuldades motoras. Evidentemente que nem todos os lugares têm recursos financeiros para adotar esse padrão. Os livros em braile são mais caros. Mas podemos avançar muito. Um exemplo disso é o último Festival Literário da Baixada Fluminense (Fliba), realizado em Queimados, cujas transmissões contaram com intérprete de libras e teve como tema a acessibilidade. Aliás, o principal legado do evento foi a entrega da Biblioteca Municipal Padre Sá, em que ajudamos na montagem para que seja um espaço bastante inclusivo.

Que balanço o senhor faz do programa Rota de Leitura?

– O programa tem sido um sucesso. Estamos recebendo em média 500 livros por semana, às vezes até mais. Ele está ajudando a fomentar a leitura nos municípios, através dessas doações. Claro que temos alguns critérios, como a necessidade de o livro estar em bom estado, não pode ser didático, nem enciclopédias, entre outros. Mesmo assim há muito interesse em contribuir. Às vezes, chegam grandes doações, como recentemente vinda da família do escritor Rubem Braga. Também já temos parcerias com sebos que contribuem para o programa. Através do Rota da Leitura, estamos conseguindo fornecer acervo para implementação de bibliotecas e salas de leitura em municípios com muita carência desse tipo de espaço, como São José do Ubá, Cambuci e São Sebastião do Alto, por exemplo.

Quando pode haver a reabertura das bibliotecas parque com segurança?

– Tudo depende da evolução da pandemia e das normas editadas pelas autoridades sanitárias. Não podemos colocar em risco a vida de frequentadores nem de funcionários. A Biblioteca Parque Estadual chegou a reabrir em março, quando havia um otimismo maior, mas tivemos que fechar novamente ao público. Mas esse curto período foi importante pois serviu como um treinamento para a retomada gradual. Utilizamos um protocolo de atendimento, com agendamento pela internet, controles na entrada e na saída e na entrega de livros. Acredito que vai funcionar bem nas demais bibliotecas quando pudermos reabrir. Aproveitamos também esse período de fechamento para fazer reparos necessários e repor o quadro de pessoal.

Que alternativas existem para atender a demanda das pessoas?

– As alternativas são voltadas para o universo online. Recentemente reativamos o Instagram das bibliotecas parque e já estamos atingindo uma interação incrível. Nesses últimos tempos, estamos focando nossas ações para essa plataforma, com vídeos com contação de história, por exemplo, de modo a atingir um universo amplo de pessoas. Também realizamos algumas lives muito especiais, como com a escritora Marina Colasanti, que nos proporcionou um retorno muito bom do público e uma experiência inesquecível para mim, enquanto indivíduo.

Que novidades estão sendo preparadas para essa reabertura?

– A vocação das bibliotecas parques é não só estimular a leitura e atender pesquisadores e estudantes. Elas têm que valorizar seu formato de multilinguagem. Por isso, estamos estabelecendo diversas parcerias com o setor público e com o privado para realizar cursos, workshops, masterclasses, etc. Um dos preparativos que já podemos adiantar é o curso de gastronomia que será oferecido na Biblioteca Parque da Rocinha, que conta com toda estrutura necessária para isso.

Que outros aprendizados podem ser tirados desse fechamento?

– Esse isolamento social forçado, em virtude dessa doença que nos assola, levou muitos brasileiros a buscarem a companhia dos livros e, com isso, houve uma revalorização da releitura. Pesquisa recente mostra que os brasileiros entraram 2021 lendo quase 20% a mais que no ano passado. Ao ficar em casa, muita gente descobriu no livro um aliado, uma companhia. Ele transporta a pessoa para um outro lugar, oferece uma nova vivência. Por isso, é tão importante que ninguém tenha fome de livros. Não podemos permitir que alguém deixe de ler por falta de acesso. Quem tem um livro, tem um amigo. E quem tem um amigo, tem tudo.